O passado que por lá existe está no meio de grandes árvores que insistiram em lentamente digerir estas construções durante séculos. A comunhão com a fauna e flora locais não é o único ponto comum entre estes dois imponentes locais históricos, afinal, a população destas duas regiões passou anos em intensa guerra entre si.
PALENQUE | As ruínas escondidas
Palenque é uma das grandes cidades Maias do período clássico, juntamente com Tikal. Calcula-se que tenha mais de 2.5 Km2 de extensão, pelo que apenas cerca de 2% das ruínas estarão a descoberto atualmente. E é verdade que por entre a floresta se distinguem pequenos amontoados de pedra musgada que quase fazem adivinhar pequenas construções. Mais fascinante do que isso é ver que ainda existem populações Maias locais que não conhecem uma palavra de espanhol e passeiam de túnica branca pelo meio da floresta. Foi-nos explicado, por um guia imberbe e sobrefaturado, que os indígenas desta zona passeiam pela floresta sob o efeito de cogumelos alucinógenos. Definitivamente algo que gostaria de experimentar.
Se depois de visitar a zona arqueológica “principal” ainda houver algo em vós que peça mais, vão dar uma volta na floresta com um guia. Poderão ver a extensão da outrora majestosa cidade coberta por um alto arvoredo repleto de fauna, com sorte ainda verão algumas comunidades de macacos uivadores, ou pelo menos ouvi-los, algo que se pode fazer a bastante distância, acreditem.
A NOSSA SUGESTÃO:
- Visitem a zona arqueológica principal bem cedo (08h), toda a idílica beleza de ruínas em comunhão com a natureza desaparece com turistas de meia idade a gritar boçalidades e lugares comuns no cume dos templos. Algumas das ruínas recuperadas estão escondidas no meio da floresta, longe da entrada principal, ligadas por pequenos trilhos devidamente marcados, vão e explorem!
- Visitem a floresta no fim. Ao sair da zona arqueológica principal, frente ao parking, poderão contratar um guia para essa visita extra. É proibido visitar a floresta sem guia, mas não se deixem roubar! Tudo acima de 200 pesos/pessoa é roubo à mão armada (como acabamos por verificar tarde de mais).
Da guerra intensa entre as duas regiões, Calakmul resultou vitorioso em duas ocasiões, em 599 e 611 d. C. Dos tempos conturbados que se seguiram surgiu o mais conhecido dos senhores Maias K’inich Janaab’ Pakal. O seu sarcófago encontra-se no Templo das Inscrições, o templo das cinco portas, nas paredes que o rodeiam encontram-se relevos que descrevem a sua descensão ao inframundo. Mas todo o significado que rodeia este lugar e a maneira como foi construído a demasiado para debitar num texto tão curto, por isso vale a pena visitar Palenque com um guia.
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INFORMAÇÕES ÚTEIS:
- Zona arqueológica de Palenque (08h-17h), entrada: 65 pesos
- Localização: a zona arqueológica encontra-se a 6,5 km da cidade de Palenque, no Chiapas, encontra-se bem sinalizada no cruzamento da entrada principal da cidade.
- Parking: 30 pesos
- Guia para 2 (no zona arqueológica principal): 100 pesos (muito bem regateado já dentro da zona arqueológica, fora pedem muito mais)
- Guia para visitar as ruínas escondidas na floresta: 600 pesos foi o que pagamos, mas achamos um roubo! Um passeio lindo, sem dúvida, mas pelo preço estávamos à espera de ver muito mais. Esta visita consiste em ir ver ruínas que ainda não foram recuperadas e que se encontram debaixo da vegetação, quase invisíveis.
PALENQUE | Onde dormir?
Pelo que percebemos, existem duas zonas distintas de alojamento: o centro da cidade mais barato, e a zona hoteleira com bares e restaurantes, mais caro. Quanto a nós ficamos hospedados na cidade no hotel Posada Aguila Real, barato (18€/noite), bem localizado, quartos com TV, casa de banho privada, ar condicionado, Wi-Fi, parking gratuito e um excelente atendimento. Contudo, só recomendo este hotel para quem, como nós, tencionar passar apenas uma noite em Palenque, pois os quartos não têm janelas.
Como nos esquecemos de tirar uma foto ao hotel fica aqui uma foto tirada numa das ruelas de Palenque. A Marina fez questão de me obrigar a tirar fotos a todos as carochinhas que víamos.
PALENQUE | Onde comer?
Na zona hoteleira irão encontrar vários restaurantes e bares. Experimentamos apenas um, o Café Jade, excelente para beber um copo e comer umas tapas.
CALAKMUL | Três gigantes e uma densa floresta
Se por si Palenque já é extraordinário, que dizer de Calakmul. A reserva natural de Calakmul é imensa e o sítio arqueológico tem mais de 70 km2 de extensão, maior parte ainda está a ser explorado.
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NOTA HISTÓRICA:
- Calakmul era a capital de Kaan, o reino da Serpente, um dos mais de 60 reinos que formavam a comunidade Maia e um dos mais prósperos. A sua história espalha-se por mais de 1500 anos, repletos de conflitos com reinos vizinhos. Mesmo assim todos os guias nos diziam que era um povo pacífico que gostava muito de astronomia. Deve haver um limite para o pacifismo entre todas as guerras e sacrifícios tradicionais.
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CALAKMUL | Como chegar?
Para lá chegar é um pouco mais complicado do que Palenque. A cidade mais próxima é Xpujil, que fica mais ou menos a meio da nacional que atravessa a reserva ligando Escarcega a Chetumal. Torna-se por isso uma paragem ideal para quem vai de Campeche ou Palenque para a Riviera Maia ou para a laguna de Bacalar. Em Xpujil podem encontrar uma gasolineira e dois ou três mercados onde podem comprar mantimentos básicos, um deles até tem um ATM, que pelo aspecto gigantesco da fila devia ser o único da cidade.
TRAJECTO DETALHADO:
- O caminho de Chincanná (ou Xpujil) até Calakmul é longo, não propriamente em distância, mas pela lentidão que é imposta pela imensidade de buracos que se encontram no último troço da estrada. Só existe um caminho, por isso não há que enganar. Uma vez que estejam na estrada principal em direcção a Escarcega, irão encontrar (passados 30 min) um entroncamento com uma placa a indicar Calakmul à esquerda. Logo aí, irão encontrar a “primeira barreira de controlo” onde terão de pagar 60 pesos. A partir daí é preciso contar 1h30 para chegar às ruínas. Irão passar por mais duas “barreiras de controlo” onde terão de pagar mais 60 pesos em cada uma das paragens. Nessa estrada não poderão andar a mais de 30km/h devido à imensidade de buracos mas também porque aí vivem diversos animais que andam livremente na estrada. Se forem cedo poderão desfrutar de avistamentos ocasionais da fauna local. Vimos uma raposa, uma família de javalis, um roedor gigantesco, perus selvagens e uma imensidão de aves, incluindo tucanos.
Ao chegar à zona arqueológica poderão fazer três rotas, uma curta, outra média e outra grande. A curta bastará para verem as três pirâmides principais e a praça central, que era o centro político e comercial do reino de Kaan. Maior parte do trajeto, seja qual for a hora do dia, estarão sozinhos. Pelo difícil acesso e pela distância dos centros turísticos, esta zona é pouco visitada.
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O que vos vai derreter a alma (e o corpo também, devido ao intenso calor) é a vista do topo destas pirâmides. Uma floresta que no infinito se conjuga com a linha do horizonte, tal como o mar. Esta vista é possível porque maior parte da península de Yucatán é uma enorme planície poucos metros acima do nível do mar.
Sentem-se no topo de cada uma e aproveitem!
INFORMAÇÕES ÚTEIS:
- Ruínas de Calakmul (08h-17h): na estrada que atravessa a reserva até às ruínas irão passar por 3 “portagens”, em cada uma delas paga-se 60 pesos, mas como chegamos cedo ( antes das 8h30) só pagamos em 2 delas.
- Chincanná-Calakmul: são cerca de 100km mas é preciso contar 2h
- Parking: gratuito
CALAKMUL | Onde dormir?
O nosso conselho é que durmam a noite anterior num hotel no aldeamento de Chincanná, perto de Xpujil. Um sítio verdadeiramente tranquilo, onde pudemos desfrutar de um momento relaxante e algo romântico numa hamaca a olhar para o enorme céu estrelado. Além de a dona ser uma pessoa extremamente simpática, está disposta a preparar-vos um delicioso pequeno almoço a qualquer hora! (se como nós forem loucos o suficiente para o querer às 5 da manhã). O sítio chama-se Otoch Beek e está definitivamente recomendado por nós, além disso, trata-se do hotel com melhor relação qualidade/preço perto de Calakmul. (29€/noite)
Casa del Roble: Habitación Vacacional
Ubicadas en un área tranquila y confortable y a escasos metros del sitio arqueológico de Becán, rodeadas de árboles de roble, donde vivirás una experiencia única e inigualable con atención personal…
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De Palenque a Calakmul – Guia e dicas de viagem
Bacalar – A laguna das 7 cores
Tulum – Guia e dicas de viagem
À descoberta da reserva de Sian Ka’an
Gostaram da nossa viagem? Gostariam de ter a mesma experiência de forma económica, mas não sabem como organizar a viagem ou não têm tempo para isso? Podemos criar juntos a vossa viagem de sonho com os nossos Roteiros Personalizados.
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Bom dia Axel, estou a preparar a viagem para o Mexico e pretendemos fazer um roteiro identico ao vosso. As vossas crónicas tem sido muito uteis, mesmo para alugar carro.
Desistimos da viagem de Palenque para San Cristobal de las Casas, por acharmos que neste momento existem movimentos de bloqueios e assaltos por parte dos indigenas. Isto relatado tambem pelo gerente do hotel onde ficariamos hospedados.
Por isso e como vamos visitar a Laguna Bacalar, precisamos da vossa opinião se transitar nessa estrada até Palenque é seguro?
Grato pela vossa ajuda.
Cumprimentos,
Alberto Cunha
Olá Alberto,
Fizemos esse mesmo trajecto sem problemas e aproveitamos para parar em Calakmul que recomendo fortemente! É um sítio arqueológico bastante imponente e diferente de todos os outros, pela floresta densa em que se encontra inserido, foi um dos nossos sítios arqueológicos favoritos e fica a meio caminho entre Palenque e Bacalar.
Relativamente à estrada até Palenque, tem de ter cuidado porque há poucas estações de serviço. Fomos parados 2 vezes pela polícia nessa estrada, mas sem stress, apenas controlaram os papéis do carro e mandaram-nos seguir. Nunca nos achamos inseguros e Palenque vale a pena (convém visitar cedo as ruínas porque depois fica rapidamente cheio e já não achamos tanta piada ao local..)
boa viagem!
Olá boa noite. Adorei seus textos sobre a viagem ao México. Estou fazendo meu roteiro. Tenho uma dúvida: quanto tempo vc ficou nas ruínas? a manhã toda ou o dia todo (manhã e tarde)? Abraços e desde já obrigada!
Olá Djnane!
Muito obrigada pelo feedback 🙂
ficamos uma manhã em Palenque e uma manhã em Calakmul, é largamento suficiente!
Oi Marina. Finalmente terminei meu roteiro. Sua viagem me inspirou muito. Irei em janeiro de 2019. Íamos fazer só algumas cidades que vc fez, pois íamos de ônibus. Agora decidimos ir de carro por conta de seu relato. Na volta te dou noticias de como foi. Abraços!!!
Que bom! Fico mesmo contente por saber isso e fico a aguardar o vosso feedback depois 🙂 boa viagem!